O artigo denominado “Environmental Assessment and Evaluation of Oxidative Stress and Genotoxicity Biomarkers Related to Chronic Occupational Exposure to Benzene” (Avaliação Ambiental e Avaliação de Estresse Oxidativo e Biomarcadores de Genotoxicidade Relacionados à Exposição Ocupacional Crônica ao Benzeno) foi publicado no volume especial "Environmental and Occupational Exposure to Benzene and Oxidative Damage" (Exposição Ambiental e Ocupacional ao Benzeno e aos Danos Oxidativos), da revista “International Journal of Environmental Research and Public Health” (Revista Internacional de Pesquisa Ambiental e Saúde Pública, Qualis A2)”, é o resultado das experiências desenvolvidas ao longo de um projeto integrador do Cesteh que teve como objetivo avaliar os efeitos genotóxicos da exposição ocupacional crônica ao benzeno em dois grupos de trabalhadores: trabalhadores de postos de revenda de combustíveis na Zona Oeste do Rio de Janeiro/RJ (Grupo I) e vigilantes das portarias da Fiocruz (Grupo II).
O Benzeno
O benzeno é um composto comprovadamente cancerígeno para humanos, classificado como Grupo 1A da Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC) desde 1979, com base em evidências suficientes de que causa leucemia. A exposição ao benzeno, por suas características toxicológicas, leva a alterações hematológicas e neurológicas, como dores de cabeça, náuseas, irritação das mucosas respiratórias e oculares, danos no sistema nervoso, irritação do sistema nervoso central, irritação da pele. Esses sinais e sintomas são chamados de benzenismo.
O benzeno é um dos componentes da gasolina que apresenta o maior risco toxicológico devido às suas propriedades carcinogênicas e devido às políticas de desenvolvimento econômico que estimulam o consumo de combustíveis fósseis. Portanto, a exposição a este composto, especialmente por sua presença na gasolina, é uma preocupação particular no âmbito saúde ambiental e ocupacional. A população em geral é também ambientalmente exposta ao benzeno e outros hidrocarbonetos devido à volatilização dos solventes presentes na gasolina tanto nos postos de abastecimento - dos tanques de armazenamento e abastecimento de veículos - quanto das emissões por combustão dos veículos, o que leva à sua difusão generalizada. Estas emissões são particularmente significativas para as pessoas que vivem nas proximidades de certos tipos de plantas industriais e postos de gasolina.
A exposição ambiental e ocupacional ao benzeno a partir de combustíveis é uma das principais causas de preocupação para as autoridades nacionais e internacionais, uma vez que o benzeno é um carcinógeno conhecido em seres humanos e não existe limite seguro para a exposição a carcinógenos.
O estudo desenvolvido no Cesteh
O estudo avaliou os dados sociodemográficos dos trabalhadores; a razão das concentrações de benzeno/tolueno no ar atmosférico; os ácidos trans, trans-mucônico (ATTM) e S-fenilmercaptúrico (AFM); e o estresse oxidativo, por meio das enzimas catalase, glutationa S-transferase, superóxido dismutase, grupamentos tiol e malondialdeído. A genotoxicidade foi medida por metáfases com anormalidades cromossômicas e anormalidades nucleares, ensaio cometa utilizando a enzima formamidopirimidina DNA glicosilase (FPG) e metilação do elemento repetitivo LINE-1 e dos genes KLF6 e CDKN2B. Participaram do estudo oitenta e seis trabalhadores expostos cronicamente ao benzeno: 51 do Grupo I (frentistas) e 35 do Grupo II (vigilantes).
Resultados
A relação Benzeno/Tolueno foi semelhante nos dois grupos de trabalhadores, mas o Grupo I apresentou maior oscilação das concentrações de benzeno em função de suas atividades laborais. Os biomarcadores de estresse oxidativo (gupamentos tiol e malondialdeído), anomalias cromossômicas e anomalias nucleares foram sensíveis à essa pequena diferença na exposição ao benzeno, identificada pela avaliação do benzeno no ar atmosférico, embora os resultados dos biomarcadores de exposição ATTM e AFM não tenham se apresentado diferentes. Não foram observadas diferenças entre os dois grupos para tiol, malondialdeído, anormalidades cromossômicas ou anomalias nucleares, mas uma relação linear múltipla foi obtida para os biomarcadores anomalias cromossômicas e cometa-FPG. Uma correlação significativa foi encontrada entre o tempo de trabalho e os biomarcadores cometa-FPG, anomalias cromossômicas, glutationa S-transferase e malondialdeído. Além disso, uma maior frequência de anomalias cromossômicas foi observada no Grupo I, o que indica um risco aumentado de resultado adverso real causado pela exposição ocupacional em que uma fonte direta de benzeno é manuseada. No entanto, isso não significa que os trabalhadores do Grupo II (vigilantes) não corram risco de adoecimento, uma vez que esses trabalhadores também possuem a mesma exposição preocupante ao benzeno e semelhante à dos trabalhadores do Grupo I (frentistas). Foi, também, observada uma linearidade entre contagem de leucócitos e ATTM, em que 15% do total de trabalhadores tiveram contagens de leucócitos inferiores a 4,5×109 células, o que exige uma maior atenção para o estado de saúde desses trabalhadores.
O projeto teve apoio do programa Inova-ENSP (2013–2015), PAPES VII, PrInt-Fiocruz-CAPES e da Faperj e foi coordenado pelos pesquisadoras do Cesteh Paula Novaes Sarcinelli, Rita de Cássia Oliveira da Costa Mattos, Marco Antônio Carneiro Menezes e Ariane Leites Larentis, o projeto contou com envolvimento e colaborações do Departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas da UFRN; o Laboratório de Pesquisa de Ciências Farmacêuticas da UEZO; o Laboratório de Biodosimetria do Instituto de Radioproteção e Dosimetria da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN); a Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre; o Departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas da UFMG e o Departamento de Nutrição da Universidade de Oslo. O artigo reúne os resultados coletivos da tese de doutorado de Isabele Campos Costa-Amaral e das dissertações de mestrados de Daniel Valente, Marcus Vinicius Corrêa dos Santos, Victor Oliva Figueiredo e Angélica Cardoso Pereira, defendidas no programa de Pós Graduação em Saúde Pública e Meio ambiente da ENSP; e da dissertação de mestrado de Vanessa Gonçalves Milagres, defendida no Programa de Pós-Graduação em Análises Clínicas e Toxicológicas da Faculdade de Farmácia/UFMG. Estas dissertações e teses foram orientadas conjuntamente por pesquisadores destas diferentes instituições colaboradoras
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