O artigo científico intitulado “Oxidative Stress Levels Induced by Mercury Exposure in Amazon Juvenile Populations in Brazil” (Níveis de estresse oxidativo induzido por exposição ao mercúrio em população infanto-juvenil no Brasil) foi publicado no periódico “International Journal of Environmental Research and Public Health” (Revista Internacional de Pesquisa Ambiental e Saúde Pública, Qualis A2). A pesquisa analisou os efeitos à saúde de crianças e adolescentes ribeirinhos, utilizando biomarcadores de estresse oxidativo, relacionados com a exposição ao mercúrio (Hg), proveniente da ingestão frequente de peixes contaminados por este metal.
O contexto da pesquisa
A região Amazônica sofre há anos com o garimpo ilegal de ouro e a contaminação das águas dos rios com o Hg usado neste processo. Somado a isso, o solo amazônico também é rico neste metal. Assim, projetos de hidrelétricas nesta região mobilizam o Hg dos solos, que uma vez nas águas, se transforma em metilmercúrio (MeHg), uma forma orgânica de Hg muito tóxica para humanos, e que, quando ingerida pode causar danos irreversíveis durante o desenvolvimento infantil.
O consumo de peixe é um dos principais meios de exposição humana ao MeHg, pois este sofre biomagnificação.
As populações ribeirinhas da Amazônia dependem do peixe local para sua subsistência e, portanto, correm maior risco de desenvolver danos à saúde, principalmente problemas neurológicos causadas pelo MeHg. As crianças são um grupo extremamente vulnerável nestas populações.
O estresse oxidativo é um desequilíbrio entre a formação de espécies reativas (pró-oxidantes) e o
sistema de defesa antioxidante, levando ao potencial dano celular.
O estudo de biomarcadores de estresse oxidativo induzidos pela exposição ao mercúrio (Hg) é uma forma de avaliar subclinicamente os efeitos da exposição ambiental a este metal e seus compostos, e pode alertar para os riscos à saúde das populações expostas.
Os resultados obtidos no trabalho
A pesquisa foi desenvolvida em Porto Velho, capital de Rondônia, na região Norte do Brasil.
Três comunidades foram avaliadas: Cuniã, uma reserva extrativista isolada, localizada no rio Madeira, com consumo frequente (diário) de peixes em sua dieta; Belmont, outra comunidade ribeirinha, porém próxima do centro urbano, e Porto Velho, um centro urbano. As diferentes frequências de consumo nestas 3 comunidades geram diferentes níveis de exposição ao Hg.
A comunidade ribeirinha do Cuniã apresentou os maiores níveis de exposição ao metal, devido à maior frequência de consumo de peixe
Os biomarcadores Hg em sangue; e malondialdeído (MDA) e glutationa-S-transferase (GST) em soro foram maiores em Cuniã, quando comparado com as outras comunidades avaliadas. Isso mostra que os ribeirinhos de Cuniã tem maiores níveis do metal e, consequentemente, maiores riscos à saúde.
A importância do estudo
Este é um dos primeiros trabalhos que avalia biomarcadores de estresse oxidativo e exposição ao Hg, via consumo de peixe, na bacia do rio Madeira. Ele demonstra a importância dos biomarcadores de estresse oxidativo na avaliação de exposição dietética ao Hg, uma vez que estes indicam alterações metabólicas iniciais e reversíveis, enriquecendo avaliações de risco à saúde.
A sensibilidade desses biomarcadores a níveis baixos de exposição é útil para alertar às autoridades da Saúde, antes que um cenário de doença se desenvolva, levando a efeitos mais sérios sobre a saúde humana.
É importante destacar que a construção de hidrelétricas na região amazônica faz parte de um projeto de desenvolvimento nacional mais amplo, assim como outros grandes empreendimentos. Porém este tipo de obra tem uma série de impactos negativos sobre o Ambiente e a Saúde de populações locais, que devem ser pensados, discutidos e avaliados antes do início das obras, para que a carga de danos seja mitigada o máximo possível, e que as populações mais vulneráveis, por exemplo, ribeirinhos, índios e outras populações nativas não sejam atingidas.
O trabalho foi realizado durante o mestrado em Saúde Pública e Meio Ambiente (Ensp/Fiocruz) de Leandro Vargas B. de Carvalho, trabalhador do Cesteh, com orientação da pesquisadora do Densp, Sandra de Souza Hacon, ambos departamentos/centros da Ensp.
Copyright © 2017 - 2021 - CESTEH