A Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz) se une a outras entidades, entre elas a Associação Brasileira dos Expostos ao Amianto (Abrea), a Rede Indonésia do Banimento do Amianto e a Internacional dos Trabalhadores da Construção e da Madeira (BWI), para reforçar sua posição contrária à exportação do amianto. No dia 10 de janeiro de 2019, por meio de nota, a Eternit, ex-gigante do amianto no Brasil, informou que deixou de usar a fibra cancerígena na produção de telhas. Porém, comunicou que continuará exportando as fibras de amianto para dezenas de países em desenvolvimento. O diretor da ENSP, médico pneumologista, Hermano Castro, reforça ser inaceitável que o Brasil mantenha a produção de um produto comprovadamente carcinogênico apenas para a exportação, sem se incomodar com a saúde das populações.
O diretor enfatiza a posição da ENSP/Fiocruz – instituição brasileira de saúde pública, com reconhecimento internacional – totalmente contrária ao duplo padrão de produção no Brasil. Segundo ele, trata-se de duplo padrão, pois serão produzidas telhas sem amianto para o mercado interno; todavia, será realizada a exportação de fibras de amianto para o mercado externo, pela mineradora, para a produção de telhas de amianto em outros países.
Tais países, em sua maioria asiáticos e africanos, são mais vulnerabilizados com relação à proteção à saúde ambiental e à saúde do trabalhador, além de não haver fundamentação no campo da saúde pública que permita a defesa da utilização de uma fibra reconhecidamente carcinogênica, pela Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC), e que tem contribuído imensamente para o aumento do número de casos de mesotelioma no mundo inteiro.
“A política que o Brasil está adotando permitindo a exportação, certamente vai agravar as condições de saúde dessas populações. O que tanto criticávamos do Canadá, que mantinha tal política - garantia que os cidadãos canadenses não utilizassem e não se expusessem ao amianto, mas, ao mesmo tempo, exportavam para outros países do mundo -, não deve ser feito por nòs, ou seja, não podemos agir da mesma forma. Em 2018, o governo canadense finalmente proibiu a fabricação, uso, importação e exportação de amianto e produtos que contenham a substância. Sendo assim, é inaceitável que o Brasil mantenha a produção de um produto carcinogênico apenas para a exportação, sem se incomodar com a saúde das populações”, alertou o diretor da ENSP/Fiocruz.
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