A tese de doutorado sobre “Determinantes de permanência de catadores em associações de catadores de materiais recicláveis”, abordado pela pesquisadora da Fundacentro do Paraná, Ana Rubia Wolf Gomes, salienta que dos 30 associados entrevistados, 70% da mão de obra é feminina.
“A flexibilidade no trabalho possibilita que as mulheres possam levar os filhos à escola, médico e, sobretudo, cuidar do filho quando está doente”, enfatiza Ana Rubia. Completa que a necessidade financeira também é outro fator determinante para a permanência dos catadores na cooperativa.
Além disso, os profissionais são pessoas mais velhas, muitos desempregados que não conseguem recolocação no mercado de trablaho, como por exemplo, trabalhadores rurais ou até pessoas com algum tipo de enfermidade.
Ana Rubia informa que os catadores estão expostos a muitos riscos. “A população ainda não sabe separar o lixo para a coleta seletiva e o descarte feito de forma inadequada pode provocar acidente ao trabalhador e contaminar o meio ambiente”, ressalta a pesquisadora. O estudo foi realizado em uma associação localizada no sul do país, em 2010, cidade com 120 mil habitantes na época.
O trabalho da manicura
De acordo com a PNAD, em 2012, foram registrados 1.688.809 trabalhadores no ramo de embelezamento pessoal, sendo 87% ocupado por mulheres. Juliana Oliveira Andrade, da Fundacentro/SP, apresenta a sua tese de doutorado: “Fazendo a vida, fazendo as unhas: o serviço de manicure em São Paulo e em Montreal”. “Poucas bibliografias falam sobre o trabalho da manicura”, salienta Juliana. O seu estudo é considerado inédito.
As profissionais podem chegar a trabalhar em média 12 horas por dia, e precisam comprar o seu próprio material de trabalho. Além disso, mesmo tendo registro em carteira, as manicuras não têm os seus direitos trabalhistas adquiridos, conforme estão descritos na CLT.
Diferentemente do Brasil, no Canadá, Juliana informa que a maioria das manicuras é de origem asiática e a falta de comunicação verbal faz com que elas se comuniquem por meio de gestos e olhares. O mobiliário também é mais confortável e a manicura não fica curvada para realizar a sua atividade.
Acidente de trajeto
“Juliana, acredito que muitas dessas profissionais devam utilizar a linha 11 Coral, da CPTM”, salienta Rosana.
Rosana Gonzaga Franco de Melo Massa, em sua apresentação fala sobre “A Dignidade do Trabalhador Usuário da Linha 11 da CPTM - Acidentes de Trajeto”. Durante a pesquisa de campo, a mestre observou que as mulheres são as que mais sofrem acidentes de trajeto.
A pesquisadora destaca ainda as questões sobre os riscos existentes em um salão de beleza, bem como fatores humanos e organizacionais que podem comprometer a saúde das profissionais e das clientes. Explica que os utensílios como alicate, lixa de unha, espátula e palito podem ser fonte de transmissão de doenças como hepatites, AIDS e fungos. “Na biossegurança existe uma série de atitudes para inserir no ambiente de trabalho e mantê-lo longe de riscos”, frisa Andrade.
Destaca que o trabalhador leva em média duas horas para chegar ao trabalho. “Utilizam a linha coral homens e mulheres que exercem trabalho formal e informal. No entanto, na pesquisa pude verificar que a mão de obra informal, a sua maioria, é composta por mulheres”, discorre Massa.
Os acidentes ocorreram geralmente, das 5h às 9h e das 16h às 20h. Foram entrevistados 15 homens e 15 mulheres. Sete mulheres na faixa etária de 31 a 40 anos sofreram acidentes. No caso dos homens, com idade acima dos 40, foram relatados quatro casos.
Rosana informa que o trabalhador deve comunicar à empresa que sofreu acidente de percurso indo para o trabalho, já a empresa fica responsável por preencher o formulário da CAT. Porém, durante a sua apresentação, a mestre relatou que essa prática não é realizada.
Diante disso, as estatísticas de acidentes de trajeto não são seguras, sobre isso, Massa, cita estudos do pesquisador Celso Amorim Salim, da Fundacentro de Minas Gerais e da Bernadete Waldvogel, da Fundação SEADE.
Jornalistas: sofrimento e prazer
Cristiane Oliveira Reimberg, jornalista da Assessoria de Comunicação Social da instituição, explana que em uma entrevista com o psicanalista Christopher Dejours, sobre sofrimento e prazer no trabalho, fez com que interessasse sobre o tema com o viés voltado à área jornalística.
Cristiane entrevistou jornalistas do sexo masculino e feminino, de outrora, da nova geração e de diferentes veículos. Segundo ela, sofrimento e o prazer fazem parte da rotina dos jornalistas. O sofrimento ocorre porque no jornalismo diário as notícias precisam ser noticiadas em tempo real: ao momento em que chega aos receptores.
No entanto, como coloca Dejours, o prazer vem com o reconhecimento do trabalho. “Cada matéria é única. O prazer está intrínseco ao conseguir publicar uma matéria e pensar que o leitor se informará sobre o que está sendo passado”, salienta a jornalista.
Contudo, algumas questões como assédio moral e até sexual, que podem ocorrer dentro da redação e fora dela são fontes desencadeantes de doenças como depressão, estresse, fadiga e outras enfermidades. Cristiane relata um caso em que os jornalistas pulavam uma janela para ir embora e, assim, não cruzar com o chefe.
Ressalta ainda que os jornalistas trabalham muito mais de oito horas e os fins de semana são comprometidos. A nova tecnologia ajuda na divulgação das matérias, porém, coloca o profissional em múltiplas tarefas: a de entrevistar, fotografar, produzir a matéria e postar na mídia em tempo real.
“Muitas vezes, o jornalista mesmo doente, passando por constrangimentos e humilhações no trabalho não costumam faltar, pois enxergam a sua profissão como um compromisso com a sociedade”, frisa Cristiane.
Dissertações de mestrado das alunas de Pós- Graduação da Fundacentro
Desde 2011, o Programa de Pós-Graduação “Trabalho, Saúde e Ambiente”, da Fundacentro, possui 73 alunos regulares matriculados, distribuídos em seis turmas. Desse total, 46 alunos já defenderam suas dissertações de mestrado.
Como parte da programação, as mestres, Adélia Meira de Faria abordou o tema “Presenteísmo: fatores envolvidos no processo decisório de ir trabalhar doente”, e Simone Heberle Alves dos Santos, representada por sua orientadora e pesquisadora da Fundacentro/SP, Thaís Helena de Carvalho Barreira, discorreu sobre “A segurança do paciente e saúde do trabalhador: um estudo de caso sobre o trabalho humano na recuperação de falhas durante o processo de medicamentos”.
O termo presenteísmo é pouco conhecido, pois ao contrário do absenteísmo, o trabalhador vai trabalhar mesmo não tendo condições físicas ou mentais para desempenhar a sua atividade de forma plena.
Adélia informa que o presenteísmo, na enfermagem, pode acarretar graves incidências relativas à organização do trabalho, o qual pode comprometer de forma significativa a saúde dos profissionais e na assistência dada aos pacientes. “O presenteísmo ainda pode ocasionar o sofrimento psíquico, transtornos mentais e síndrome de Burnout”, salienta a mestre.
A palestrante informa que os sintomas mais comuns do presenteísmo estão ligados às dores musculares, cansaço, ansiedade, angústia, privação do sono, distúrbios gástricos, depressão e estresse. A sua pesquisa foi realizada com trabalhadores de uma UTI e UTI Neonatal, sobretudo mulheres nas idades entre 21 a 58 anos.
Destaca os motivos pelos quais essas profissionais, mesmo doentes, não faltam ao trabalho. As técnicas de enfermagem, nas idades de 21 a 25 anos, por terem pouco tempo de trabalho e na função -, vão trabalhar doentes por medo de perder o emprego.
A mão de obra terceirizada também não falta ao trabalho, são mulheres na faixa etária de 36 a 40 anos. “São profissionais sem fins empregatícios, mães e fonte de renda familiar e muitas têm outro emprego”, destaca Faria. A mestre constata ainda que as profissionais não faltam ao trabalho porque falta mão de obra e elas têm comprometimento com o trabalho, com a equipe e pacientes. Por outro lado, a execução do trabalho e os cuidados com os pacientes podem ser comprometidos.
Segurança do paciente e saúde do trabalhador
A partir de 2004, a Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou o Programa Aliança Mundial para Segurança do Paciente (PAMSP), o qual foi ratificado no Brasil, em 2007, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Desde esse momento, novas regras e normativas são implantadas em hospitais para possibilitar uma melhor atenção ao paciente, bem como a qualidade das atividades desenvolvidas pelos profissionais.
A pesquisa da mestre, Simone Heberle, teve como intuito compreender o trabalho e as dificuldades enfrentadas pelos auxiliares e técnicos de enfermagem durante as suas atividades, sobretudo as dificuldades enfrentadas nas etapas do processo medicamentoso. O processo medicamentoso é o trabalho em que os auxiliares e técnicos de enfermagem conferem os horários e separam as medicações para cada paciente.
Sobre isso, a mestre informa em seu estudo que é importante discutir estratégias que “possibilitem a interceptação e correção de falhas e, principalmente, subsidiando propostas de intervenção de melhorias nas interações entre equipes”. Vale destacar que o termo segurança do paciente visa prevenir possíveis deslizes durante a execução prestada ao paciente, sobretudo na eliminação de danos decorrentes a erros cometidos na administração de medicamentos.
O estudo foi realizado em uma clínica médica de um hospital público universitário da cidade de São Paulo. Na apresentação da dissertação da sua orientanda, Thaís Barreira, informa que casos envolvendo má administração de medicamentos em hospitais têm sido veiculados na mídia. Cita como exemplo, o caso de um bebê que faleceu por receber leite via intravenosa.
Barreira também comenta sobre a taxonomia que é a Classificação Internacional para Segurança do Paciente (CISP), da OMS, desenvolvida para facilitar a comparação, medicação, análise e interpretação de informações para melhorar o cuidado do paciente.
Com relação aos incidentes, a pesquisadora informa que são quatro tipos, de acordo com a CISP, destaca Near Miss quando o incidente não atingiu o paciente. Explica que os auxiliares e técnicos de enfermagem ao longo dos anos de trabalho conseguem discernir que o medicamento prescrito não é o ideal para o paciente.
Os outros tópicos são: a Circunstância Notificável quando aconteceu de forma significativa o dano, mas o incidente não ocorreu; Incidente sem Dano, ou seja, atingiu o paciente, mas não causou dano e o Incidente com Dano, como o próprio nome diz, resultou dano ao paciente – evento adverso.
Além disso, existe uma série de procedimentos que podem ser desenvolvidas pelos profissionais de saúde que viabilizam o planejamento de políticas envolvendo pesquisadores e responsáveis pelo desenvolvimento de sistemas de notificação para assegurar a vida do paciente.
A pesquisadora cita o livro “Fatores Humanos e Organizacionais na Segurança Industrial”, de François Daniellou et al., salienta que esse estudo pode ser aplicado em qualquer profissão.
Copyright © 2017 - 2021 - CESTEH